Não é por acaso que a turnê de despedida de Gilberto Gil se chama "Tempo Rei", título de um de seus grandes sucessos. Perto de completar 83 anos, no próximo dia 26, o cantor baiano se mostrou, diante de um Mineirão lotado, na noite deste sábado (14), um senhor do tempo, capaz de transitar com beleza e vivacidade as diversas etapas de sua carreira.
Num repertório com 30 canções, durante duas horas e meia, Gil se fixou, principalmente, no trabalho lançado entre a segunda metade da década de 1970 e os primeiros anos dos 80, época de grande ebulição política, social e cultural no país. Ver a sua família reunida é, além da homenagem a um dos maiores nomes da música brasileira, a celebração dessa permanência.
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Os cabelos brancos e o jeito frágil de Gil se transformam em força e poesia, materializando no palco alguns dos melhores momentos da MPB e do cancioneiro do artista, que iniciou o show às 20h30, em meio a fogos de artifício, emendando três clássicos da década de 1980, com "Palco" (do disco Luar, de 1981), "Banda Um" (Um Banda Um, 1982) e " Tempo Rei" (Raça Humana, 1984).
"Boa noite, Belô"
Após o trio inicial, foi a hora de cumprimentar o público. "Boa noite, Belô! Esse é mais um encontro de tantos que já tivemos", assinalou. Os espectadores reagiram, em coro, com um "Gil, eu te amo!". Ele agradeceu e devolveu tamanho carinho, ao dizer
"Amo vocês todos. Tem sido assim nesses anos todos!", completou.
Na quarta música, o baiano voltou ainda mais no tempo, em 1973, quando lançou "Cidade de Salvador", e pôs o público para dançar em "Eu Só Quero um Xodó", de autoria de Dominguinhos. O início da trajetória artística foi rememorado ainda em "Eu m Vim da Bahia", "Procissão", "Domingo no Parque" (um divisor de águas na música nacional, ao flertar com o rock), compostas na década de 1960.
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Depois de cantar "Cálice", símbolo da censura no período ditatorial, escrita ao lado de Chico Buarque (que faz um emocionante depoimento em vídeo sobre o contexto da época), Gil ainda eou por outros discos icônicos na carreira, como "Expresso 222" (1972), "Refazenda" (1975), "Refavela" (1977) e "Realce" (1979). "Um Banda Um" foi o mais reverenciado, com quatro títulos - entre eles "Andar com Fé" e "Drão".
Surpresa
O trabalho dos anos 90 em diante pouco apareceu no repertório, com exceção de "Esperando na Janela", presente na trilha sonora do filme "Eu Tu Eles", e "O Dia da Caça", do grupo Baiana System. Uma das surpresas da noite foi a participação de Samuel Rosa na música "Vamos Fugir", dueto disponibilizado deste sexta-feira nas plataformas digitais.
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Com uma apresentação que não fica nada a dever às grandes atrações internacionais, em qualidade técnica e visual (um aparato em espiral, no alto do palco, interagia com as imagens do telão), Gil chegou ao final do show com "Toda Menina Baiana", fechando de forma apoteótica um repertório memorável. Uma despedida inesquecível.